sábado, 16 de setembro de 2017

Nova Zona Empresarial Água Longa: Um Projeto Insustentável




Andreia Neto, candidata da coligação PPD/PSD.CDS-PP, tem insistido que um dos seus principais projetos eleitorais é a criação de um parque empresarial de 150 hectares na freguesia de Água Longa. Segundo uma recente entrevista a um jornal bimensal que recebi gratuitamente na minha caixa de correio pela primeira vez, “Notícias de Santo Tirso”, Andreia Neto diz que “Santo Tirso deve seguir o exemplo de Valongo, do outro lado da autoestrada”.

A ideia da criação de emprego para fixar população é o principal argumento por detrás deste projeto, aproveitando os melhores acessos do concelho ao Porto, Sul e Galiza. Seria uma boa iniciativa, se não implicasse um impacto extremamente negativo para a população das freguesias do Vale do Leça, que passarei a elencar em cinco pontos.

1.       Projeto Megalómano. 150 hectares de terreno correspondem a 150 campos de futebol, espaço suficiente para alojar muitas centenas de grandes novas empresas. Tratando-se de empresas de pequena e média dimensão, de cariz tecnológico, podemos mesmo falar de milhares de empresas. Este número é descabido, se considerarmos que no concelho todo temos pouco mais de 5000 empresas, e em 2014 se criaram apenas 195 empresas novas (segundo números da candidatura de Andreia Neto).

2.       Destruição de 150 hectares de área ecológica protegida. O local escolhido pela candidata é uma mancha florestal que integra a reserva ecológica, sendo determinante para o equilíbrio ambiental de todo o Vale do Leça e para a qualidade de vida das populações, nomeadamente para as futuras gerações. No programa eleitoral da candidata, encontra-se plasmado que “a sustentabilidade ambiental e a consequente melhoria da qualidade de vida será uma prioridade. A Câmara Municipal deve privilegiar a educação ambiental, e dar o exemplo, e assim o faremos.” Ora acontece que este projeto, contemplando a destruição de 150 hectares de floresta, cujo impacto ambiental seria brutal, descredibiliza completamente este programa eleitoral. Os eleitores facilmente se apercebem que a área de ambiente e sustentabilidade não será uma prioridade, antes pelo contrário.

3.       Descaracterização das Freguesias do Vale do Leça. Qualquer munícipe de Santo Tirso que atravesse as freguesias de Vale do Leça, rapidamente constata que este território tem características próprias, em particular um traço marcadamente rural, que o distingue do resto do concelho. Só assim se justifica que estas freguesias ainda não tenham, em pleno século XXI, abastecimento de água de rede pública. Se a água ainda não chegou a estas freguesias, não é com certeza oportuno que cheguem subitamente centenas de novas empresas. Os munícipes do Vale do Leça viveram estes anos sem água, graças a um solo arável e um ambiente despoluído, rodeados de manchas florestais. Não aceitarão que esse solo seja contaminado, o ambiente poluído e a mancha florestal destruída. A ambição da candidata tem aqui um preço demasiado a pagar.

4.       Trânsito de pesados insustentável. Os habitantes das freguesias do Vale do Leça que têm que se deslocar diariamente para o Porto, como é o meu caso, já constataram que a estrada N105, que faz a ligação entre Água Longa e o nó da A41 de Alfena, se encontra repleta de camiões desde a abertura do novo entreposto da Jerónimo Martins. Trata-se de camiões da empresa ZAS-Transportes, contratada para trabalhar exclusivamente para o grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce), e por isso facilmente identificáveis. Há informações publicadas que dão conta que estes camiões estão proibidos de circular em autoestradas, e é o que se constata no terreno. É, no mínimo, legítimo perguntar à candidata Andreia Neto o que aconteceria se estas novas empresas (mesmo uma pequena parte) também proibissem o transporte de mercadorias por autoestrada. Com este exemplo concreto, como poderá Andreia Neto prometer que “não trará qualquer problema de trânsito de pesados porque sairão e entrarão na autoestrada diretamente das suas empresas”?  O trânsito na N105 seria caótico, impossibilitando os munícipes das freguesias do Vale do Leça de ali circularem. Paradoxalmente, teríamos os pesados de transporte a circular na estrada nacional e os habitantes obrigados a pagar as portagens na A41, com claro prejuízo para os munícipes de Santo Tirso.

5.       Poluição ambiental e visual. Conforme já mencionado, o território do Vale do Leça subsiste essencialmente da agricultura e pecuária, graças a um solo arável e descontaminado, assim como abundância de água. A candidata da coligação promete “um parque para grandes empresas não poluidoras que criarão empregos de qualidade”. Ao destruir 150 hectares de floresta numa zona elevada da Serra da Agrela, as consequências seriam dramáticas para as populações do sopé desta Serra, principalmente devido à lixiviação e contaminação dos solos e águas. A falta de água acabaria, também, por ser uma consequência. Uma zona de lazer muito agradável e muito explorada para passeios pedestres, BTT e motocross seria substituída por enormes pavilhões de betão e metal, daqueles que se constroem em 3 meses e ali ficam para sempre. Seria uma herança muito pesada para uma população, que veria a sua qualidade de vida diminuir drasticamente e os terrenos e habitações desvalorizados. O exemplo de áreas empresariais ao abandono do concelho vizinho de Paços de Ferreira, e inclusive de Santo Tirso, deveriam fazer refletir a candidata. O aproveitamento de áreas empresariais próximas, como a zona de iniciativa empresarial que nasceu espontaneamente em Água Longa, mais concretamente no percurso que liga a freguesia ao concelho da Trofa através da EN 318, seria uma decisão aceitável e que não colidiria com os interesses das populações.



Não existem muitas áreas de mancha florestal com esta dimensão no concelho de Santo Tirso, com a vantagem de estar muito próximo da cidade do Porto. Uma estratégia de longo prazo, componente crítica para a sustentabilidade e, em última análise, a sobrevivência humana, consiste em manter áreas representativas dos vários ecossistemas do mundo num estado razoavelmente intacto e funcional. O designado ecoturismo está na ordem do dia, à escala global, sendo o principal desafio que a indústria do turismo enfrenta. Esta área ecológica protegida tem um enorme potencial turístico por explorar, em particular destinado ao ecoturismo e turismo de natureza. Pede-se que um candidato à Câmara Municipal tenha visão de longo prazo, o que implica conhecimento de programas estratégicos europeus e mundiais. Estamos rodeados de casos que demonstram que a ambição do curto prazo tem efeitos nefastos e irreversíveis, pagos pelas gerações futuras.

Não querendo acreditar que a candidata Andreia Neto, natural de S. Martinho do Campo, pretenda prejudicar intencionalmente as populações do Vale de Leça, é no mínimo plausível pensar que o possa fazer por falta de conhecimento destas freguesias. Enquanto munícipe e eleitor de Santo Tirso, que nunca teve qualquer envolvimento em movimentos políticos, independentes ou partidários, não ficaria bem com a minha consciência se não alertasse a equipa da candidata Andreia Neto, para os impactos negativos deste projeto eleitoral. Faço-o como pai, que deseja que os filhos cresçam num ambiente saudável e descontaminado, como hoje existe. Faço-o, também, na qualidade de cidadão, que deseja o melhor para a comunidade da sua freguesia, o seu concelho e o seu país.