domingo, 28 de agosto de 2016

Em defesa da ruralidade



A discussão "Campo ou cidade?" voltou à atualidade, num tempo em que a era digital e a internet colocam próximas pessoas que se encontram geograficamente afastadas. Na realidade, o aparecimento de profissões digitais tornou possível trabalhar a partir de casa, seja numa pequena fração de uma torre de uma grande metrópole ou numa pequena cabana rodeada de vegetação luxuriante, no mais isolado dos locais.

Tenho constatado nos últimos tempos que as grandes cidades estão "doentes". A procura de um habitat saudável passa, a meu ver, por um misto de urbanidade/ruralidade. O bem estar psicológico é possível se obtivermos das cidades o melhor que elas oferecem e da natureza a tranquilidade de que necessitamos. Como faço questão de fundamentar a defesa da ruralidade, pesquisei.


Stanley Milgram, psicólogo da Universidade de Yale, foi um dos primeiros a compreender as diferenças. A sua tese defendia que a maior diferença entre os dois âmbitos é o nível de estimulação. Assim, segundo Milgram, a cidade bombardeia-nos com uma torrente de mensagens sensitivas que ultrapassa a capacidade humana de processar informação. Ou seja, há demasiadas coisas e não podemos dar atenção a tudo. Por isso, colocamos em funcionamento um mecanismo de adaptação: ignorar tudo o que não seja relevante.

Na mesma linha vão os estudos de Stephen Kaplan, da Universidade do Michigan. A sua principal tese pode ser resumida numa frase: “O cérebro também se cansa.” As investigações conduzidas por Kaplan demonstram, por exemplo, o modo como a nossa memória ou a execução de tarefas melhoram depois de um passeio por um lugar tranquilo.

A hipótese em que trabalha é que os ambientes que causam mais stress (ruas com engarrafamentos, aglomerações...) obrigam a efetuar um esforço mental, ativado por estímulos fundamentais para a sobrevivência. Esse fluxo contínuo dificulta a atenção direta, isto é, aquela que podemos focar voluntariamente. Daí que o nosso cérebro repouse mesmo que seja apenas ao contemplar a fotografia de uma paisagem; e também, explica o psicólogo norte-americano, quando nos sentamos num parque ou caminhamos por uma rua só para peões. 


De qualquer modo, a influência negativa das paisagens construídas pelo homem no nosso estado de espírito é um facto constatável, como confirmou, em 1984, Roger Ulrich, da Universidade do Texas. O professor analisou a recuperação de um grupo de doentes submetidos à mesma intervenção cirúrgica: alguns podiam ver, pela janela do hospital, as árvores de um jardim, enquanto os restantes contemplavam uma parede de azulejos. Os relatórios médicos concluíram que os primeiros recuperavam muito antes, devido ao melhor estado anímico e ao seu otimismo.

Muitos outros estudos atribuíram o agravamento do nosso estado de saúde à influência das metrópoles modernas. Um dos mais recentes, conduzido em 2010 por Brendan Kelly, da Universidade de Dublin, estabelecia que o risco de sofrer de esquizofrenia aumenta quando alguém nasce ou vive longas temporadas em áreas urbanas, sobretudo se for do sexo masculino.

Atualmente, os especialistas procuram descobrir as causas para a inegável influência tóxica do betão. Alguns trazem à baila circunstâncias que seria importante minimizar, como a fragmentação social, o stress provocado pelo excesso de estímulos ou problemas de desenvolvimento neuronal. 


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