domingo, 18 de novembro de 2012

100.ª Edição da Taça Davis


Disputar a centésima edição da Taça Davis, representando a sua nação, é muito mais do que disputar apenas mais um encontro para qualquer jogador de ténis. A Taça Davis jogou-se pela primeira vez em 1900, entre uma equipa norte americana e uma equipa britânica. Deixou de se disputar apenas durante as duas Guerras Mundiais e desde a década de 80 do século XX que tem mais de 100 equipas participantes, sendo a maior competição desportiva disputada anualmente entre equipas. E esta centésima edição disputava-se em Praga, em casa de um dos finalistas, a República Checa. A Espanha apurou-se para esta Final, depois de eliminar os Estados Unidos da América. A República Checa teve um percurso mais difícil para ali chegar, pois deparou-se com a Sérvia e Argentina, dois países com jogadores muito bem posicionados no ranking atual. Arena O2 de Praga completamente lotada para assistir a três dias (16-18 de novembro) de grande ténis e, principalmente, muita emoção.

E porque a Taça Davis é um torneio de equipas, representantes de Nações, é muito mais do que ténis que ali se joga. Joga-se com duas raquetes e uma pequena bola amarela, é certo. Também há um árbitro principal (por acaso Carlos Ramos, nesta edição) e os juízes de linha (por acaso, um deles, o meu coach Filip). Mas, tirando isso, esqueça os Grand Slams, os Masters, o ATP, etc. Aqui tem-se uma equipa no banco, um massagista, um treinador. O público é ruidoso, apoia incondicionalmente a sua Nação, e não aplaude desportivamente as jogadas espetaculares da equipa adversária. Há buzinas e bandeiras. Há claques organizadas que tentam a todo o custo desconcentrar o adversário. E há uma Taça, conhecida como "Saladeira" devido ao seu descomunal tamanho. Tal, deve-se ao facto de ter gravado em placas o nome de cada um dos finalistas e vencedores de cada edição, o que implica ir adicionando de tempos a tempos níveis à base do troféu, que  conta já com três "andares". Como tive o privilégio de estar a alguns centímetros do troféu que foi hoje entregue, posso assegurar-vos que impressiona pela sua dimensão.

E como a Taça Davis não é só ténis, não faz qualquer sentido estar aqui a detalhar aspetos técnicos dos cinco encontros disputados (4 singles e 1 pares). A Armada espanhola era composta por David Ferrer, Nicolas Almagro, Marc Lopez e Marcel Granollers. Do team checo, apenas dois jogadores atuaram, Tomas Berdych e Radek Stepanek. Ferrer venceu o primeiro encontro a Stepanek. Almagro vendeu cara a derrota contra o líder da equipa checa, Tomas Berdych. Ao final do primeiro dia, Espanha 1 - Républica Checa 1. No sábado apenas se disputou o encontro de pares, que opôs Granollers/Lopez, recém vencedores do Masters de Londres, a Berdych/Stepanek, com vitória dos checos. Espanha 1 - República Checa 2, no final do segundo dia. Domingo, 18 de novembro, era o dia de todas as decisões. David Ferrer aplicou-se contra um Berdych desgastado com as quase seis horas de encontros disputados nos dias anteriores e empatou a eliminatória (2-2), deixando a decisão nas mãos (ou nos braços e pernas) de Nicolas Almagro. O 11.º do ranking contra o veterano Radek Stepanek  (37.º). Stepan jogou concentrado desde início, parecendo alhear-se das quase dezoito mil vozes que gritavam o seu nome. Concentrado, com uma tática bem definida e, notoriamente, a apostar na imaturidade do seu adversário. Apostado em ganhar os seus jogos de serviço, com subidas constantes à rede, que lhe iam dando pontos e irritando o espanhol. Bolas bem a meio do court, evitando a abertura de ângulos por parte de Almagro, e uma esquerda a duas mãos consistente, que lhe valeu vários pontos ganhantes. Ainda antes de perder os dois primeiros sets (6-4, 7-6) a Armada espanhola começava a dar sinais da falta de confiança em Nico, que conseguiu aproveitar uma quebra de rendimento do checo para vencer o terceiro set (3-6). Mas não era o dia de Almagro, inconstante, nervoso, desprovido de tática e desestabilizado com o nível do jogo de rede de Radek. O checo, puxado pelo seu público, começou a acreditar que daí a alguns minutos poderia fazer história para o ténis e para o seu país. Com uma atitude irrepreensível, deu tudo o que tinha, chegando a "voar" para volleys impossíveis e conquistando pontos decisivos. Almagro, pelo contrário, ainda continuava com aquela atitude de quem é superior no ranking, esquecendo-se que esta competição não representaria apenas mais um encontro de ténis na sua carreira e já nem Alex Corretja se esforçava por motivar o murciano. Stepanek acabaria por vencer, muito justamente, por 6-3 e foi consagrado, ali e naquele momento, herói nacional. Almagro já deve estar a sentir na pele o que representou aquela atuação, vista na TVE por milhões de seus campatriotas. Estes não lhe criticam ter um mau dia, que pode acontecer e no ténis é sinónimo de derrota. Mas uma derrota honrada, com atitude e garra, bem ao jeito de Ferrer. Isso, e a avaliar pelos comentários que já li na Marca e As, "nuestros hermanos" não lhe perdoarão tão cedo...

A equipa da República Checa fez duplamente história. Primeiro, porque venceu hoje a sua primeira Taça Davis, depois de em 1980, liderada por Ivan Lendl, a então Checoslováquia ter conquistado este troféu. Depois, ao torna-se a primeira nação a conquistar no mesmo ano os troféus do ténis por equipas em masculinos (Davis Cup), femininos (Fed Cup) e mistos (Hopman Cup).

Pessoalmente, foi com grande satisfação que vivi estes acontecimentos aqui, na República Checa. São acontecimentos marcantes para qualquer adepto de ténis, num ano marcante para este país. Ter estado a assistir na Arena de Praga à Final da Fed Cup 2012, ter estado a escassos centímetros desta Taça Davis e ter a oportunidade de ter o treinador pessoal como juiz de linha nesta Final são motivos de sobra para jamais esquecer esta 100.ª Edição da Taça Davis. Parabéns República Checa!