domingo, 16 de dezembro de 2012

Milan Kundera

Milan Kundera nasceu a 1 de abril de 1929 em Brno, capital da Morávia, cidade no sul da República Checa, próxima da fronteira com a Eslováquia.
Kundera aprendeu a tocar piano com seu pai. Posteriormente, também estudou musicologia. Influências e referências musicológicas podem ser encontradas nas suas obras, a ponto de existirem por vezes notas em pauta durante o texto.
 
Em 1950, foi temporariamente forçado a interromper os seus estudos por razões políticas. Nesse ano, ele e outro escritor checo - Jan Trefulka - foram expulsos do Partido Comunista Checo por "actividades anti-partidárias".  Seis anos mais tarde, Kundera foi readmitido no Partido Comunista. Em 1970, porém, foi novamente expulso. Kundera, assim como outros artistas checos como Václav Havel, envolveu-se na Primavera de Praga de 1968. O período de optimismo, como se sabe, foi destruído no agosto do mesmo ano pela invasão soviética com exército do Pacto de Varsóvia a Checoslováquia. Kundera e Havel tentaram acalmar a população e organizar um levante reformista frente ao totalitarismo comunista da União Soviética.

 
Milan Kundera vive em França desde 1975, sendo cidadão francês desde 1980. Seus romances geralmente tratam de escolhas e decepções. Em seus livros é recorrente a crítica ao regime comunista e à posterior ocupação russa de seu país, em 1968, quando foi exilado e teve sua obra proibida na então Checoslováquia.

Proposto várias vezes para Prémio Nobel da Literatura, Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o "Common Wealth Award" de Literatura (1981) e o "Prémio Jerusalém" (1985), entre outros.
 
A Insustentável Leveza do Ser é a sua obra principal, que ganhou em 1988 uma adaptação para o cinema, sob a direcção de Philip Kaufman e com Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin no elenco. Recebeu 2 indicações ao Oscar e reconhecimento mundial.


domingo, 9 de dezembro de 2012

As pessoas de hoje em dia

Na passada quarta-feira, recebi esta imagem com o título "As pessoas de hoje em dia...".

 
 
Nesse mesmo dia, à noite, quando assistia ao noticiário na televisão, soube da seguinte história associada à seguinte fotografia.
 
 


A imagem, publicada na terça-feira na primeira página do New York Post, mostra um homem a tentar escapar do fosso do metro de Nova Iorque. De acordo com testemunhas que se encontravam no local no momento do acidente, havia outras pessoas na plataforma, mas a fotografia não inclui mais ninguém, além da vítima, Ki-Suck Han, de 58 anos, que caiu na linha de metro depois de ter sido empurrado.

"Depois de empurrão fatal no metro, a pergunta: Não havia heróis?", foi o título de um artigo no New York Times um dia depois do acidente. "A fotografia de um homem sozinho numa linha do metro numa das cidades mais populosas do mundo vem lembrar que, quando alguma coisa má acontece, quase sempre dependemos apenas de nós próprios", lamentou o jornalista de media daquele jornal, David Carr.

Esta fotografia de um homem encurralado na linha do metro momentos antes de morrer esmagado pelo comboio que avança na sua direcção está a motivar um intenso debate em Nova Iorque: por que é que num dos sistemas de transportes públicos mais frequentados do mundo, ninguém tentou ajudar o homem?

 
Pode ter sido apenas uma coincidência, mas não será altura de começarmos a refletir que são estas as pessoas de hoje em dia, de um tempo em que já não há heróis...
 
 


domingo, 18 de novembro de 2012

100.ª Edição da Taça Davis


Disputar a centésima edição da Taça Davis, representando a sua nação, é muito mais do que disputar apenas mais um encontro para qualquer jogador de ténis. A Taça Davis jogou-se pela primeira vez em 1900, entre uma equipa norte americana e uma equipa britânica. Deixou de se disputar apenas durante as duas Guerras Mundiais e desde a década de 80 do século XX que tem mais de 100 equipas participantes, sendo a maior competição desportiva disputada anualmente entre equipas. E esta centésima edição disputava-se em Praga, em casa de um dos finalistas, a República Checa. A Espanha apurou-se para esta Final, depois de eliminar os Estados Unidos da América. A República Checa teve um percurso mais difícil para ali chegar, pois deparou-se com a Sérvia e Argentina, dois países com jogadores muito bem posicionados no ranking atual. Arena O2 de Praga completamente lotada para assistir a três dias (16-18 de novembro) de grande ténis e, principalmente, muita emoção.

E porque a Taça Davis é um torneio de equipas, representantes de Nações, é muito mais do que ténis que ali se joga. Joga-se com duas raquetes e uma pequena bola amarela, é certo. Também há um árbitro principal (por acaso Carlos Ramos, nesta edição) e os juízes de linha (por acaso, um deles, o meu coach Filip). Mas, tirando isso, esqueça os Grand Slams, os Masters, o ATP, etc. Aqui tem-se uma equipa no banco, um massagista, um treinador. O público é ruidoso, apoia incondicionalmente a sua Nação, e não aplaude desportivamente as jogadas espetaculares da equipa adversária. Há buzinas e bandeiras. Há claques organizadas que tentam a todo o custo desconcentrar o adversário. E há uma Taça, conhecida como "Saladeira" devido ao seu descomunal tamanho. Tal, deve-se ao facto de ter gravado em placas o nome de cada um dos finalistas e vencedores de cada edição, o que implica ir adicionando de tempos a tempos níveis à base do troféu, que  conta já com três "andares". Como tive o privilégio de estar a alguns centímetros do troféu que foi hoje entregue, posso assegurar-vos que impressiona pela sua dimensão.

E como a Taça Davis não é só ténis, não faz qualquer sentido estar aqui a detalhar aspetos técnicos dos cinco encontros disputados (4 singles e 1 pares). A Armada espanhola era composta por David Ferrer, Nicolas Almagro, Marc Lopez e Marcel Granollers. Do team checo, apenas dois jogadores atuaram, Tomas Berdych e Radek Stepanek. Ferrer venceu o primeiro encontro a Stepanek. Almagro vendeu cara a derrota contra o líder da equipa checa, Tomas Berdych. Ao final do primeiro dia, Espanha 1 - Républica Checa 1. No sábado apenas se disputou o encontro de pares, que opôs Granollers/Lopez, recém vencedores do Masters de Londres, a Berdych/Stepanek, com vitória dos checos. Espanha 1 - República Checa 2, no final do segundo dia. Domingo, 18 de novembro, era o dia de todas as decisões. David Ferrer aplicou-se contra um Berdych desgastado com as quase seis horas de encontros disputados nos dias anteriores e empatou a eliminatória (2-2), deixando a decisão nas mãos (ou nos braços e pernas) de Nicolas Almagro. O 11.º do ranking contra o veterano Radek Stepanek  (37.º). Stepan jogou concentrado desde início, parecendo alhear-se das quase dezoito mil vozes que gritavam o seu nome. Concentrado, com uma tática bem definida e, notoriamente, a apostar na imaturidade do seu adversário. Apostado em ganhar os seus jogos de serviço, com subidas constantes à rede, que lhe iam dando pontos e irritando o espanhol. Bolas bem a meio do court, evitando a abertura de ângulos por parte de Almagro, e uma esquerda a duas mãos consistente, que lhe valeu vários pontos ganhantes. Ainda antes de perder os dois primeiros sets (6-4, 7-6) a Armada espanhola começava a dar sinais da falta de confiança em Nico, que conseguiu aproveitar uma quebra de rendimento do checo para vencer o terceiro set (3-6). Mas não era o dia de Almagro, inconstante, nervoso, desprovido de tática e desestabilizado com o nível do jogo de rede de Radek. O checo, puxado pelo seu público, começou a acreditar que daí a alguns minutos poderia fazer história para o ténis e para o seu país. Com uma atitude irrepreensível, deu tudo o que tinha, chegando a "voar" para volleys impossíveis e conquistando pontos decisivos. Almagro, pelo contrário, ainda continuava com aquela atitude de quem é superior no ranking, esquecendo-se que esta competição não representaria apenas mais um encontro de ténis na sua carreira e já nem Alex Corretja se esforçava por motivar o murciano. Stepanek acabaria por vencer, muito justamente, por 6-3 e foi consagrado, ali e naquele momento, herói nacional. Almagro já deve estar a sentir na pele o que representou aquela atuação, vista na TVE por milhões de seus campatriotas. Estes não lhe criticam ter um mau dia, que pode acontecer e no ténis é sinónimo de derrota. Mas uma derrota honrada, com atitude e garra, bem ao jeito de Ferrer. Isso, e a avaliar pelos comentários que já li na Marca e As, "nuestros hermanos" não lhe perdoarão tão cedo...

A equipa da República Checa fez duplamente história. Primeiro, porque venceu hoje a sua primeira Taça Davis, depois de em 1980, liderada por Ivan Lendl, a então Checoslováquia ter conquistado este troféu. Depois, ao torna-se a primeira nação a conquistar no mesmo ano os troféus do ténis por equipas em masculinos (Davis Cup), femininos (Fed Cup) e mistos (Hopman Cup).

Pessoalmente, foi com grande satisfação que vivi estes acontecimentos aqui, na República Checa. São acontecimentos marcantes para qualquer adepto de ténis, num ano marcante para este país. Ter estado a assistir na Arena de Praga à Final da Fed Cup 2012, ter estado a escassos centímetros desta Taça Davis e ter a oportunidade de ter o treinador pessoal como juiz de linha nesta Final são motivos de sobra para jamais esquecer esta 100.ª Edição da Taça Davis. Parabéns República Checa!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Federer v Djokovic

 
Esta era a Final do ATP World Tour por quase todos desejada, entre o primeiro e o segundo jogador do ranking. E, na verdade, não desiludiu. Ou melhor, quase...
 
 
Federer entrou muito bem no encontro, quiça demasiado bem, pois logo ali deixou de ter acesso à rampa que o poderia catapultar para o mais alto voo desta noite. Ao invés, Novak entrou lento e no quarto jogo do encontro, quando já perdia por 3-0,  foi visível na sua cara uns suores que não são normais. Reparei eu e reparou Boris Becker, o meu comentador preferido da Sky Sports, com um sentido de humor notável, que eu jamais imaginaria neste alemão. Já se falava na derrota por 0-6 no último encontro disputado pelos dois, em Cincinnati, quando Nole faz o 3-1. Foi o catalisador de que o sérvio necessitava para mais uma grande noite. Uma noite entre a Cigarra e a Formiga. Novak usou a sua tática de sempre, ou seja, proibido falhar. Voava para a bola, fazia a espargata e até, por duas vezes, se atirou para o chão em desespero. Numa delas abriu um golpe no braço direito que, aparentemente, lhe deu mais força mental (como se ele precisasse) para fechar a primeira partida por 6-7(5).
 
E o que dizer da Cigarra? Jogou bem, deu espetáculo aqui e ali, entre uma direita cruzada batida de costas, em rotação, para salvar um set-point na primeira partida, ou um volley amortie no quarto jogo do segundo set. E, claro, levou a Arena de Londres ao rubro, principalmente com a primeira jogada. Os adversários não têm que invejar toda a admiração e apoio que RF vai granjeando por onde vai passando, em qualquer parte do mundo. Ele personifica o ténis espetáculo de que nós, espetadores e admiradores desta modalidade, estamos à espera. Ele próprio oferece espetáculo aos seus adversários, dando-lhes motivação para o vencerem. Mas isso é tema para outro post.
Hoje, Federer esteve sólido de esquerda e sofrível com a sua direita. Sabemos todos que a pancada direita cruzada é a sua principal arma (por muitos considerada a melhor direita da história do ténis). Pois hoje não foi, e os erros não forçados de direita de Roger, acabaram por "oferecer" o segundo set a Nole (5-7).
 
Concluindo, Novak Djokovic é o melhor jogador a disputar os "big points" e confirmou hoje que é o melhor jogador do ano que agora finda. Roger Federer disse no final que "não podia jogar muito mais do que jogou hoje". Mas esse bocadinho que nós sabemos que ele seria capaz de dar, era suficiente para lhe dar a vitória no último torneio do ano.
 
Agora, boas férias tenísticas. Vemo-nos, em Janeiro, na Austrália!
 
 

Meias-finais do ATP World Tour

Sábado, 11 de novembro de 2012. Dois encontros deste nível, num só dia, só mesmo numas meias-finais de um Torneio de Grand Slam. Como diria Juan Martin Del Potro, na antecipação da jornada, "três nomes grandes e um jogador grande". Na verdade, foram dois encontros grandes, entre quatro grandes jogadores da atualidade, entre os quais os três primeiros classificados do ranking. Ao contrário de outras modalidades desportivas, no ténis não há injustiças e, não por acaso, estes três jogadores estão sempre lá, depois de se livrarem, com maior ou menor dificuldade, de adversários mais ou menos dotados. E Del Potro, o outsider do dia, conquistou esta meia-final por direito próprio, ao derrotar na véspera Roger Federer (mesmo se "a feijões" para este).


A primeira meia-final, disputada entre Djokovic e Del Potro consitituiu o aperitivo para o prato principal que teríamos o prazer de saborear a seguir. Delpo entrou melhor e, claramente, venceu o duelo de direitas cruzadas, o que lhe valeu a conquista do primeiro set por 4-6. Claudicou no segundo set, com erros não forçados de esquerda (6-3). O desgaste físico começou a evidenciar-se  no seu jogo de pés, que já não correspondia à exigência do jogo. Nole, por sua vez e como nos habituámos a ver, foi aumentando o ritmo de jogo, fazendo movimentar o adversário. Tal como no primeiro set, uma vez mais a direita cruzada foi decisiva na terceira partida, que caíu desta feita para o jogador sérvio (6-2) que, merecidamente, conquistou a passagem para a final deste Masters .
 
Oito horas da noite em Londres. 18000 espetadores aqueciam o ambiente da Arena, que contagiou Federer e Murray para uma noite de grande ténis. Não há muito dizer, apenas que os dois jogadores jogaram o que podem e sabem. Depois de se terem defrontado várias vezes este ano, uma das quais na Final dos JO, já não havia segredos para nenhum deles. Com os seus 25 anos de idade, Andy teve o seu melhor ano de sempre, estando muito próximo do seu melhor nível. Roger, por seu turno, reapareceu em 2012 com um nível de ténis surpreendente para um jogador de 31 anos, que lhe permitiu inclusivé roubar o record a Sampras de jogador com maior número de semanas em número um do ranking. Foram certamente os dois melhores sets de Roger nos últimos tempos. E, quando assim é, nem Andy nem ninguém consegue fazer melhor. Taticamente, foi uma partida brilhante do suiço que, tirando ritmo e ângulos a Murray, carimbou, com relativa facilidade, o passaporte para a Final mais aguardada (7-6, 6-2).
 
Para terminar, apenas um comentário que ouvi dos repórteres da Sky Sports, que não deixaram de criticar o público da Arena. "Estamos em Londres, mas parece que estamos bem no meio da Suiça".

sábado, 10 de novembro de 2012

Definição de Saudade

Um dia, um anjo passou por mim...

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada, porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapia e radioterapia.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondida nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim.
Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é? (Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? “Saudade é o amor que fica!


Encontrei hoje, por acaso, este texto escrito pelo Dr. Rogério Brandão, médico oncologista clínico. Saudade foi considerada a sétima palavra mais difícil de traduzir por uma empresa britânica de traduções, Today Translations. "Saudade é o amor que fica!" é a melhor definição que eu alguma vez encontrei para esta palavra. Desafio alguém a dar uma definição mais completa, mais direta e mais simples.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Antítese de um encontro de ténis


O2 Arena de Londres, 8 de novembro de 2012. Fatigados, mental e fisicamente, sem brilho e provavelmente sem ambição de passar às meias finais da ATP Championships Final, Del Potro e Tipsaveric proporcinaram o "pior" encontro de ténis a que tive oportunidade de assistir este ano de 2012 (incluindo encontros do circuito feminino). Confesso que as expetativas já não eram muitas, mas... era um encontro do Masters dos Masters, onde apenas os 8 melhores jogadores do mundo têm o direito de marcar presença. Del Potro entrou concentrado, pois sabia que era a última oportunidade de se apurar para a ronda seguinte, depois de derrotado por Ferrer no primeiro encontro de Londres. Serviço canhão, direita canhão a "pintar" as linhas e Tipsarevic a sair de "bicicleta" (6-0) deste primeiro set. A linguagem corporal do jogador sérvio já dava sinais de derrota assumida, e nem o sentimento de piedade do público, silenciado por um jogo sem ponta de emoção, contagiou Tipsarevic. Assistiu-se a um arrastar penoso do número 8 do ranking ATP, que lá ia ganhando os seus jogos de serviço com alguma dificuldade. Na segunda partida (6-3) ainda consegui encontrar dois pontos bem construídos, com uma relativamente longa troca de bolas, e com alguma emoção. Foram as duas únicas ocasiões que o público da Arena de Londres aplaudiu efusivamente os jogadores, na esperança de mudar o rumos dos acontecimentos. Mas não... o estilo do jogador Argentino é mesmo assim, apesar de idolatrado por muitos. E não se poderia pedir mais a um jogador que, apesar de fazer parte da elite mundial do ténis, não conseguiu mais do que atingir os QF de um GS (US Open, 2011). Uma hora e dezassete minutos que eu não desejo ver repetidos nos próximos tempos. Felizmente, é deveras raro assistir a uma antítese de um encontro de ténis.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Djokovic v Murray


Passaram pouco mais de tês semanas desde a última vez que estes dois jogadores se defrontaram (ver post de 14 de outubro). De Shanghai para a O2 Arena de Londres. Hoje não era uma final, apenas um encontro do Grupo A da ATP World Tour Finals 2012, que se disputa entre os 8 melhores jogadores da atualidade.
 
Curiosamente, a história repetiu-se. Murray não poderia desejar uma melhor entrada, com a quebra do serviço do seu opositor e um jogo de serviço em branco, que lhe deu o 2-0. A superioridade do escocês no primeiro set (6-4) não ofereceu dúvidas a ninguém, nem mesmo ao sérvio, que acabaria por referir na entrevista final que quando Murray atinge aquele nível, nem ele o consegue parar. Se é certo que este encontro não atingiu o brilhantismo ou o dramatismo do disputado há três semanas, houve momentos de grande intensidade e de ténis de elevado nível. Djokovic, já se sabe, é o jogador do circuito mais forte mentalmente e, como seria de esperar, não se deixou abater e acabou por vencer a segunda partida sem grande surpresa, por 6-3. Andy começou mal o terceiro set, com reações que fizeram lembrar aquele jogador derrotado que há dois ou três anos nos habituámos a ver nas finais de GS. Mas os conselhos de Lendl apareceram ao oitavo jogo da terceira partida que, após estar a perder por 1-3, conseguiu equilibrar para 4-4, com quebra de serviço de Nole. Pensou-se que Murray, a jogar perante o seu público, já não iria deixar fugir o encontro. Mas quem está por dentro do ténis atual, e conhece o espírito predador e ganhador de Novak Djokovic, sabia que o sérvio iria dar tudo o que conseguisse a partir daquele momento. E assim aconteceu. Nole foi buscar o seu melhor ténis, que não por acaso faz dele o número um da atualidade, e a partir daí não há nada a fazer. O serviço volta a aparecer, e os pontos decisivos a cairem para o número um. Apesar de um certo equilíbrio, que se tem registado entre estes dois grandes tenistas, Novak acabaria por vencer uma vez mais (4-6, 6-3, 7-5) e assim assumir a liderança do Grupo A, que eventualmente evitará o seu encontro com Roger Federer nas meias-finais do torneio.

Jerzy Janowicz

Já ouviu falar de Jerzy Janowicz?    Não?!!
Então prepare-se porque este nome vai ser, muito em breve, dos mais falados no mundo do ténis.
Polaco, 21 anos, 203 cm e 91 kg. Começou a jogar ténis com 5 anos de idade por brincadeira com os seus pais, ambos jogadores profissionais de voleibol. Fã incondicional de Pete Sampras, considera-se muito hábil com computadores. Espera, a partir desta semana, conseguir patrocinador que lhe permita pagar a viagem e estadia na Austrália, onde se disputa o seu GS preferido, mas no qual ainda não pode participar por falta de meios financeiros.
 
 Este é um breve perfil pessoal deste jovem polaco desconhecido que, numa única semana, derrotou (só) cinco jogadores Top 20, incluindo Andy Murray. Uma semana de sonho em Paris (2012 Paris Masters), que o próprio não consegue explicar, que lhe valeu a 26ª posição no ranking ATP e ser considerado o melhor tenista polaco se sempre.
 
Entrou no torneio Masters 1000 de Paris como qualifier, e qualificou-se para a final após derrotar tenistas como Andy Murray e Janko Tipsarevic, Giles Simon, Marian Cilic e Philipp Kohlschreiber. Acabou por ser derrotado na final, por 2 sets (4-6, 3-6) pelo espanhol David Ferrer, que acabaria por vencer o seu primeiro torneio Masters 1000.
 
Dotado de um seviço potente, típico de jogadores da sua estatura, e de uma direita muito forte, o que mais surpreendeu neste jogador foi a sua mobilidade no court e a inteligência do seu jogo, também caracterizado por um amortie mortal. Fiquem a saber por que razão Jerzy gerou tanto entusiasmo nesta semana que passou.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Internet está a criar alunos preguiçosos


Quase dois terços dos professores do ensino secundário norte-americano acreditam que a internet está a criar alunos mais preguiçosos. Esta é a conclusão de  um estudo conduzido no Pew Research Center, "How Teens Do Research in the Digital World".
De acordo com a maioria dos professores entrevistados, a internet tem tido um impacto positivo nos trabalhos de pesquisa dos alunos, permitindo-lhes aceder a informações mais amplas e variadas mas, ao mesmo tempo, também tem contribuído para formar “uma geração que se distrai facilmente e com um curto período de concentração”.


76% dos professores entrevistados acreditam que, com a internet, os estudantes habituaram-se a encontrar a informação procurada de forma fácil e rápida, o que reduziu a sua disposição e aptidão para a elaboração de pesquisas mais profundas. Outra das preocupações reveladas no estudo, e citada por 60% dos entrevistados, é a falta de qualidade das informações online, já que nem sempre os estudantes conseguem distinguir as fontes mais fiáveis das outras. De acordo com estes dados, cerca de 50% dos professores julgam que os estudantes deveriam ter aulas de pesquisa online, de modo a perceberem a melhor forma de aproveitar os recursos da internet.

domingo, 4 de novembro de 2012

Fed Cup Final 2012


O2 Arena, Praga, Républica Checa, 3 de novembro de 2012. Final da Fed Cup 2012. Eu estive lá, bem no meio de 14000 checos em delírio e algumas centenas de sérvios. Républica Checa contra Sérvia. Kvitova e Safarova contra Ivanovic e Jankovic.

Começando pelo recinto onde, daqui a 2 semanas, terá lugar a Final da Davis Cup, entre Républica Checa e Espanha. Construído em 2004 para albergar a Final do Campeonato do Mundo de Hóquei no Gelo, a O2 Arena é hoje principalmente usada para concertos, sendo a maior sala de concertos de Praga, com capacidade para 18000 espetadores. De fácil acesso, quer por metro (linha B) quer por comboio ou autocarro, foi planeada para acolher os maiores espetáculos, desportivos ou de entretenimento, da cidade.

O encontro de abertura opunha a ex-número 1 mundial, Ana Ivanovic, à atual número 17 do ranking, Lucie Safarova. A checa, que acabaria por ser a figura desta final e confessar que terá jogado o melhor ténis da sua carreira, aproveitou muito bem os break-points a seu favor. Ao quebrar duas vezes o serviço de Ivanovic, que até serviu melhor do que é habitual, uma das quais com 40-0, fechou o primeiro set por 6-4. Safarova jogou ainda melhor na segunda partida, onde se começou a ver uma Ana Ivanovic desesperada, com gestos de descontentamento que acabam por ser sempre aproveitados pelos adversários a seu favor. E aqui não houve exceção e a checa fechou a segunda partida por 6-3, dando o primeiro ponto à equipa da Républica Checa, para delírio dos 14000 checos na Arena de Praga.

Depois de um  intervalo retemperador, onde tive oportunidade de conhecer melhor a Arena e até estar a alguns centimetros da Taça Davis que em breve vai ser entregue à nação checa ou espanhola, teve início o segundo encontro do dia, entre a tenista checa mais conhecida da atualidade, Petra Kvitova e Jelena Jankovic, ex-número 1 mundial, embora sem vencer um único Grand-Slam. Kvitova, pelo contrário, ao vencer o Torneio de Wimbledon e o WTA Championships, foi  considerada a jogadora do ano em 2011. A sérvia entrou bem no jogo, com um serviço bem colocado. Kvitova, que foi recentemente afetada por uma bronquite, que a fez desistir do Masters deste ano, rapidamente se recompôs. O primeiro set foi bastante equilibrado e, na minha opinião, melhor jogado do que o primeiro encontro desta Final. A esquerdina checa (curiosamente Safarova também é esquerdina), ajudada pelo seu excelente jogo de serviço e de rede (típico do ténis checo) impôs-se na primeira partida por 6-4. Jankovic teve um mau início de segundo set, talvez desmoralizada pelos 3 sets até então perdidos pelas sérvias nesta final, e muito rapidamente Kvitova, motivada pelo seu ruidoso público, fez o 5-0. Esta partida acabaria com 6-1 a favor da checa e o primeiro dia terminava com 2 pontos para a Républica Checa e 0 para a Sérvia. 

Não tive oportunidade de assistir ao segundo dia da Fed Cup Final, que ficou praticamente decidida após os 2 primeiros encontros. O primeiro embate do dia opunha Ana Ivanovic contra Petra Kvitova. A sérvia, talvez com o seu orgulho ferido, venceu inesperadamente por 6-3 e 7-5, dando um novo alento à equipa sérvia. No entanto, apareceu Lucie Safarova, que acabaria por ser a estrela desta final. A jogadora checa menos cotada, que tinha lançado no dia anterior o seu país para a vitória, não seu qualquer hipótese a Jankovic. Os parciais de 6-1 e 6-1 ilustram bem a superioridade de Safarova. Jankovic terminou o encontro em lágrimas, queixando-se de fortes dores nas costas. Enquanto isso, a equipa checa, que nem precisou de disputar o quinto jogo (duelo de pares), celebrava com o seu público, na Arena de Praga, a segunda vitória consecutiva da Fed Cup e, assim, a liderança no ranking das nações no ténis feminino.


Parabéns à equipa checa, constituída por Petra KVITOVA, Lucie SAFAROVA, Lucie HRADECKA, Andrea HLAVACKOVA, e liderada por Petr PALA.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Williston N Dakota

Williston é uma pequena cidade situada a sul do estado de North Dakota cuja população, segundo o census de 2000, não atingia os 13000 habitantes. Hoje, estima-se que sejam cerca de 30000 e, todos os dias, chegam a esta pacata cidade, 30 pessoas de todos os estados americanos. Esta terra inóspita, de clima semi-árido, é hoje conhecida como a "esponja de petróleo" ou o "novo sonho americano". Deve ser um dos poucos lugares do mundo, onde a palavra "crise" não faz parte do vocabulário local. A taxa de desemprego de 0,7% parece irreal nos dias que correm. As bailarinas strippers vêm diretamente de Las Vegas para ganharem, numa única noite, entre 2000 e 3000 dólares, cerca de dez vezes mais do que ganhariam na capital do jogo. Uma das bailarinas conta a história que os homens, quando aqui chegam acabados de sair do comboio, dizem "acabei de chegar, não tenho emprego", ao que ela costuma retorquir "senta-te aí durante 3 horas e já terás um quando saíres". Como dizia um dos trabalhadores "aqui é possível ganhar 100000 dólares por ano, sem ter qualquer diploma", qualquer coisa como cerca de 6000 Eur por mês.


O que faz então desta terra árida o "novo sonho americano"? Nada mais do que uma formação de xisto de onde estão a ser extraídos 400000 barris de petróleo diariamente, a partir de 8000 poços de petróleo instalados. No final deste ano, este será já o maior campo de petróleo americano, ultrapassando a produção da Prudhoe Bay Oil Field, no Alasca. Estima-se que dentro de 20 anos possam existir a operar 50000 poços de petróleo e que a produção possa atingir os dois milhões de barris por dia.

Este petróleo e gás de xisto do North Dakota já era há muito conhecido, mas eram consideradas propostas infrutíferas.  No entanto, as novas tecnologias de perfuração horizontal e fratura hidráulica (fracking) permitem que a injecção de água e areia numa fratura da rocha possa libertar o petróleo. Curiosamente, esta técnica é proibida em muitos países, em particular na Europa, por razões ambientais, ligadas à contaminação dos lençois freáticos. Mais recentemente, tem-se colocado a hipótese desta técnica de extração poder ser um fator de risco de tremores de terra.
 
Diga-se que a disseminação global do fracking na exploração do petróleo e gás de xisto, assim como de outros recursos naturais (conhecido por boom do xisto), tem sido alvo de veementes protestos, que recentemente tiveram lugar na Austrália e na Bulgária.





domingo, 28 de outubro de 2012

Williams v Sharapova

Foi uma final do WTA Championships 2012 sem grande história. Serena Williams sai de Istambul como terceira do ranking WTA, mas quase unanimemente considerada como a melhor jogadora de 2012 e uma das maiores de sempre. Depois de quase um ano parada, a recuperar de problemas de saúde, Serena regressou à competição com muita vontade de jogar e, talvez, a praticar o melhor ténis da sua longa carreira. Serena, 31 anos, é a veterana do ténis feminino e, talvez por isso e pela sua forma de estar, a mais respeitada e temida pelas suas adversárias. E que o diga Maria Sharapova, capaz de cilindrar sem qualquer piedade uma adversária menos cotada (tanto melhor se conseguir um duplo 6-0), mas que parece fraquejar quando tem pela frente esta americana possante e musculada.

Serena Williams e Maria Sharapova
 
Sharapova até entrou bem no encontro, mas o serviço forte e colocado de Serena (recordista de ases no circuito feminino) não lhe permitiu dispor sequer de um ponto de break. E bastou à americana quebrar uma vez o serviço da russa, que já tinha a bola nos pés quando ainda terminava o seu movimento de serviço (muitos serviços e winners de Serena ultrapassam em velocidade o de muitos jogadores masculinos) para fechar a primeira partida por 6-4. A segunda partida foi ainda mais rápida e aí viu-se uma Sharapova conformada com a superioridade de Serena, que disparava winners de direita, de esquerda, quase todos da linha de fundo (para além dos 11 ases). A tenista russa, mais uma vez, curvou-se diante da única jogadora da atualidade que verdadeiramente teme, embora termine o ano uma posição acima da americana.
Sharapova tem, reconhecidamente, muitos atributos, um dos quais a garra com disputa cada ponto, como se fosse a última coisa que fizesse em vida. No entanto, o seu jogo baseado no serviço, na potência e nas bolas paralelas, é demasiado previsível e até enfadonho. Quando sobe à rede (coisa que sucede no máximo 2 vezes em cada set) fica sempre desorientada sem saber o que fazer, perdendo a noção de espaço. Ver um encontro de ténis ao vivo é muito diferente da televisão. Quando tive a oportunidade de ver jogar Sharapova numa das meias-finais de Roland Garros, confesso que saí desiludido com o seu estilo de jogo. Jogadas com poucas trocas de bola (a maioria acaba logo no serviço ou na resposta), sem subidas à rede e, no fundo, sem aqueles pontos espetaculares, variados e imprevisíveis que fazem vibrar os espetadores. Assistir a um jogo da italiana Sara Errani é tudo o contrário...um verdadeiro repertório.

Hoje tive vontade de voltar a assistir àquela encontro de que aqui já dei conta, entre Kleber e Azarenka, e que considero o mais bem disputado do ano. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Azarenka v Kerber

Nem sempre as finais de Grand Slams são muito bem disputadas, mas raramente alcançam o nível do encontro de estreia da número 1 mundial, Victoria Azarenka, no WTA Championship de Istambul. Foi de fato um prazer seguir as 3 horas e 6 minutos de duração deste encontro que opôs Azarenka à alemã Angelique Kerber, atual número 5 do ranking. A primeira partida, que teve mais de 1 hora de duração, foi provavelmente a mais bem disputada deste ano, corroborando a opinião dos comentadores do Eurosport. Vika dispôs de 5 set-points no tie-break e terá sido certamente a primeira vez desde que lidera o circuito feminino, que não aproveitou nenhum deles e, mérito do serviço da esquerdina Kerber, acabou por perdê-lo por 6-7 (11-13).  A provar o estilo ofensivo das duas jogadores, em particular da bielorrussa, nas estatísticas deste grande encontro encontramos mais pontos-ganhantes (winners) do que erros não forçados.
 
Angie Kreber e Vika Azarenka
Surpreendentemente, Kerber terminou o encontro com mais 4 winners do que Vika (49 contra 45) e mais 3 erros não forçados (43 contra 40). Isso deve-se à grande capacidade defensiva da alemã, que com grande esforço físico no fundo do court soube combater o jogo vertical e explosivo da bielorrussa. Não me recordo de ter assistido a um encontro de ténis feminino com 99 winners, em 3 sets.  O nono jogo da segunda partida traduz bem a batalha entre as duas jogadores, quando já com 1 hora e 50 minutos nas pernas (e nos braços)  e depois de 9 vantagens nulas e 13 minutos e 26 segundos, Kerber arranca o 4-5. Vika cheirou a derrota e procurou concentrar-se (curiosa a relação da jogadora com o seu treinador Samuel Sumyk, sempre impávido e sereno como que a comunicarem por telepatia, pois não há gestos nem sinais). No jogo seguinte, deu-se a reviravolta do encontro, não sem antes Azarenka ver-se obrigada a salvar dois match-points, o que fez de maneira sublime, sempre em grande estilo ofensivo e sem pejo em concluir o ponto na rede (33 pontos ganhos na rede em 45 subidas é também raro no ténis feminino). É sem dúvida um estilo de jogo que eu aprecio e que me faz estar mais de 3 horas colado a um monitor, no mesmo dia e à mesma hora em que há jogos de futebol da Liga dos Campeões. Obrigado Vika! Obrigado Angie!

WTA Championships 2012

Ora aí está o WTA Championships, um torneio de ténis feminino disputado anualmente no final da temporada entre as 8 melhor tenistas do ranking WTA. Esta prova é considerada o quinto evento de maior prestígio no ténis feminino, logo depois dos quatro torneios do Grand Slam.

Este ano disputado em Istambul (entre 2011 e 2013 será disputado no Sinan Erdam Dome, com capacidade para 15500 espetadores), reúne as 8 melhores tenistas da temporada, mais concretamente, por ordem do ranking, a bielorrussa Victoria Azarenka, a russa Maria Sharapova, a americana Serena Williams, a polaca Agnieszka Radwanska, a checa Petra Kvitova, a alemã Angelique Kerber, a italiana Sara Errani e a chinesa Na Li.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Portugal visto por Lobo Antunes



Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida.

Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.

Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos.

Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.
Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejamhonestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.
O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.

Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo

que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa
interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.


As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão
feia. Para a Batalha.


Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanhade perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.
Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.
Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.

Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.

Agradeçam a Linha Branca.

Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo
e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.

Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto. Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?

O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.


In Visão, Abril de 2012.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Cannabis

Há cerca de uma semana, o Ministro da Educação de França, Vincent Peillon, afirmou numa entrevista concedida a uma estação de rádio:
"-Como Ministro da Educação nacional, é um tema que diz diretamente respeito à nossa juventude. Há uma economia paralela neste país, que é a economia da droga. Então, nós poderemos enfrentá-la por meio da repressão... No entanto, os resultados não têm sido eficazes.... É uma questão que se coloca seriamente, saber se o Estado não poderá lutar contra os traficantes através da despenalização do consumo de cannabis."
Apesar de ter sido muito criticado pelos seus pares de governo, incluindo o Presidente François Hollande, estava aberto o debate.

Em Portugal, o consumo pessoal de cannabis não é considerado ilegal. No entanto, o problema da aquisição legal para consumo próprio ou o autocultivo ainda não foram resolvidos do ponto de vista da discriminalização.

Sabe-se que a Cannabis foi utilizada durante milénios como planta medicinal. O facto de possuir canabinóides na sua composição (o THC, tetrahidrocanabinol, é o mais abundante), tem permitido o seu uso como analgésico e antiemético, em pacientes sujeitos a quimioterapia. Em Israel, têm sido conduzidos ensaios clínicos, autorizados pelo Ministério da Saúde, utilizando diversas variedades da planta, desenvolvida em estufas no norte do país.



domingo, 21 de outubro de 2012

Tomas Berdych

Tomas Berdych, o melhor jogador Checo da atualidade, N.º 6 do Ranking ATP, venceu hoje o Open de Estocolmo (ATP 250 Series) ao derrotar o francês Jo-Wilfred Tsonga pelos parciais de 4-6, 6-4 e 6-4. Foi uma final dominada pelo equilíbrio entre os dois jogadores, com estilos de jogo muito semelhantes, caracterizado por serviços potentes e direitas fortes, batidas na linha de base. O encontro poderia caír para qualquer um dos lados e no final da segunda partida chegou a parecer mais inclinado para o francês, mas um contra-break de Berdych repôs o equilíbrio, tendo levado esta final a uma terceira partida, na qual o jogador checo apareceu mais fresco fisicamente.

 
Tomas Berdych é a maior esperança do ténis checo masculino, sendo o actual sexto classificado no Ranking ATP (melhor classificação de sempre). O seu feito mais notável ocorreu no Torneio de Wimbledon 2010, tendo atingido a final deste Grand Slam, ao derrotar Roger Federer nos QF e Novak Djokovic nas SF. Acabou por sucumbir na Final perante Rafael Nadal em apenas três partidas, mas a partir daí começou a ser encarado de outra forma pelos seus adversários e mundialmente conhecido.
 


sábado, 20 de outubro de 2012

Jogo de pés (Footwork)

Fui parar, por acaso, a este vídeo do encontro entre Samantha Stosur e Jarmila Groth disputado no Torneio de Brisbane 2011. Para além da intensidade do ténis entre as duas Australianas (o encontro viria a ser ganho pela menos cotada Groth), gostaria de destacar o excelente trabalho de pés (footwork) das duas jogadoras. Repare-se bem na atitude de Groth quando se desloca na direcção da rede, seja para um approach shot ou um smash. Vale a pena aumentar o nível do som só para escutar o movimento dos pés das jogadoras, ampliado pelo facto de este encontro ser disputado em recinto fechado. Um caso em que a audição vale mais do que a imagem.

 
 
Samantha Stosur, finalista de Roland Garros 2010 e vencedora do US Open 2011, é bem conhecida dos adeptos do ténis. Já Jarmila Groth, cidadã Australiana desde 2009, nasceu em Bratislava em 1987. É, portanto, natural da Eslováquia (ex-Checoslováquia), país que tem produzido tenistas de elevada qualidade, em particular no ténis feminino. Em Maio de 2011 (pouco depois de ter disputado este encontro) Groth atingiu a sua melhor posição no ranking WTA  (N.º 25). 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manuel António Pina (1943-2012)



O Último Poema

A dor acompanhar-me-á,
a dor de não ter escrito
o teu nome e de não ter sabido
as perguntas e as respostas; nos teus braços quem me receberá?


E fará tanto frio
que a eternidade
se consumará sem mim no quarto agora vazio
de exterioridade e de contemporaneidade.


Só terei as minhas palavras,
mas também elas são mortais
mesmo as mais banais e mais
próprias para falar das coisas acabadas.


Terei talvez morrido; nunca o saberei.
Nem não o saberei tão perto estarei,
o rosto reclinado no seu peito,
a minha vida um sonho teu, desfeito.





quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Carlos Ramos

O árbitro português Carlos Ramos vai estar a dirigir a centésima final da Taça Davis 2012, que opõe a Espanha à Républica Checa, na O2 Arena de Praga, entre os próximos dias 16 e 18 de novembro.


Carlos Ramos, que soma também três finais da Fed Cup, é o único árbitro do Mundo a ter dirigido encontros de atribuição de títulos de singulares nas quatro provas do Grand Slam. A somar a tudo isto, aos 41 anos, concretizou o sonho  de dirigir a final masculina do Torneio Olímpico de ténis 2012, onde o britânico Andy Murray derrotou o suíço Roger Federer. Afinal o ténis português está bem representado, ao mais alto nível.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Franz Liszt


Franz Liszt foi um compositor húngaro (na verdade nasceu em Raiding em 1811, Império Austríaco na altura e hoje pertencente à Áustria), um virtuoso pianista e professor. O seu estilo ficou conhecido como virtuoso piano e foi considerado por muitos seus contemporâneos como o pianista tecnicamente mais avançado na época. As suas obras eram de uma complexidade tal, que poucos as conseguiam interpretar.
A sua forma de interpretar conseguia elevar o estado de ânimo de quem o ouvia, a um nível de extâse quase mítico, obtendo como resultado uma certa histeria coletiva, conhecida como Lisztomania (em 1975, Ken Russell realizou um filme biográfico de Liszt com este título).

Liszt era um virtuoso, mas também um pedagogo extraordinário. Não tinha método, nem sistema didático, nem técnica específica. Não dava conselhos, entregando-se antes como modelo aos seus alunos.  “Technique should create itself from spirit, not from mechanics”, afirmava. Não cobrava nada pelas lições e recebia alunos de todo o lado, respeitando a sua individualidade, como o provam múltiplas gravações. “O primeiro dever do professor é tornar-se desnecessário. O segundo dever do professor é ensinar os alunos a ensinarem-se a si próprios.” Na verdade, poucos como ele entendiam toda a dimensão etimológica do termo “educare” – encaminhar.

Da sua extensa obra, Hungarian Rhapsody No. 2 (com direito a interpretação em desenho animado por Tom & Jerry) e Dream of Love serão as mais conhecidas do público. Segue-se "Un Sospiro", pelo pianista canadiano Mar-André Hamelin.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ponto de viragem (turning point)

Ainda a propósito da Final de Shanghai, disputada ontem, este foi o turning point (ponto de viragem) do encontro. Para os adeptos e atentos seguidores de ténis ficou logo evidente no final desta emocionante jogada (com direito a hot-dog seguido de drop-shot) com resultado a 30-0 (5-4 para Murray no segundo set). Se falhasse esta bola, Murray disporia de 3 match-points no seu jogo de serviço. E Novak Djokovic, ao seu melhor nível, proporcionou-nos isto:

 
 
 
Este é um dos mais evidentes exemplos de um turning point, pois a partir daqui Nole encontrou o caminho da vitória. Um turning point pode ser uma jogada espetacular, como neste caso, mas pode igualmente ser uma discussão com o juiz de cadeira, um ponto ganho no challenge, uma bola na tela que cai para o outro lado, ou qualquer outra jogada ou acontecimento marcante num encontro de ténis. E são estes pontos que mudam o rumo dos acontecimentos, normalmente por despertar o jogador que está na mó de baixo, que contribuem para a imprevisibilidade do ténis.

domingo, 14 de outubro de 2012

Murray v Djokovic


Disputou-se hoje a Final do Shanghai Masters 2012, entre o escocês Andy Murray e o sérvio Novak Djokovic. Quem, como eu, teve o prazer de assistir a este duelo de mais de 3 horas deu o tempo por bem entregue. Depois de ter perdido o primeiro set por 7-5, destruído uma raquete contra o piso duro do court e ter salvo 5 Championship points, Djokovic levantou a taça, demonstrando que é sem dúvida o tenista da atualidade com maior força mental (quem não se lembra da forma com salvou 2 match-points contra Federer no US Open 2011).  Murray não tem que se lamentar, afinal 2012 está a ser o melhor ano da sua jovem carreira. O resultado de 5-7, 7-6 (com épico tiebreak de 24 pontos e 21 minutos) e 6-3 traduz bem o equilíbrio e a importância decisiva da firmeza mental nesta modalidade desportiva.

 
O Shanghai ATP Masters 1000 surge para satisfazer o desejo da Association of Tennis Professional (ATP) e da Associação Chinesa de Ténis em desenvolver o mercado de ténis na China, e da Ásia em geral, atualmente em grande expansão. Disputa-se anualmente na Qizhong Forest Sports City Arena em Shanghai, na Républica Popular da China. Trata-se de um recinto construído em 2005, com 15000 lugares e com uma arquitetura moderna, caracterizada por uma cobertura retrátil em forma de magnólia, que permite em apenas 8 minutos transformar um recinto outdoor em indoor.
 








sábado, 13 de outubro de 2012

Tierra Patagonia

Inaugurado no final de 2011, o Tierra Patagonia Hotel & Spa localiza-se na parte mais a Sul do Chile, junto ao Lago Sarmiento e com vistas fantáticas sobre os picos do Parque Nacional chileno Torres del Paine. Trata-se da Patagónia chilena,local de reserva da Biosfera UNESCO desde 1978. Este é o Hotel onde vai desejar ficar um dia...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Jogo de pés moderno

O que é que o Roger Federer tem que faz dele um dos maiores jogadores de ténis de todos os tempos? Entre outras armas, tem certamente o melhor jogo de pés (footwork) da atualidade, que não lhe permite apenas mover do ponto A para o ponto B do court, mas é na realidade a sua melhor arma. Além disso, permite-lhe movimentar-se de uma maneira elegante, evitando as lesões (alguém se lembra de RF lesionado?).

O vídeo que se segue consiste em 37 minutos com todos os movimentos e padrões de “footwork” moderno. É um excelente vídeo, extremamente didático e compreensivo, no qual Yann Auzoux (considerado em 2008 e 2010 o melhor treinador do ano em Washington) mostra como se movimentar rapidamente, eficientemente e de um modo a prevenir potenciais lesões. Na primeira parte explica e exemplifica os vários padrões de “footwork”, seguindo-se uma demonstração com alguns dos seus alunos. Na minha opinião, o melhor vídeo sobre “footwork” atualmente disponível.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Karel Svoboda



 
Passam hoje 30 anos desde a primeira transmissão televisiva em Portugal da série infantil “Dartacão e os 3 Moscãoteiros”. Para a geração de 70/80, não é possível passar ao lado da qualidade dos desenhos animados da época, que ainda hoje fazem a delícia dos nossos filhos (que infelizmente não têm nada à altura). Não é possível lembrar das aventuras do Dartacão sem pensar nas Aventuras da Abelha Maia. A Abelha Maia foi uma das séries de animação mais emblemáticas que passaram na RTP e ainda hoje é recordada com carinho por todos aqueles que foram crianças nos anos 70, mas não só...



Karel Svoboda nasceu em Praga, tendo começado a sua carreira de compositor popular depois de deixar o curso de medicina no terceiro ano da faculdade. Svoboda compôs várias bandas sonoras para o canal de TV alemão ZDF durante mais de 30 anos. Foi o compositor de bandas sonoras de algumas séries da década de 1970 que acompanharam o crescimento de uma geração de europeus. Alguns exemplos dessas séries são "Vicky, o Viking" e "A Abelha Maia". No dia 28 de Janeiro de 2007, Svoboda foi encontrado morto com um tiro, por provável suicídio, no jardim da sua "vila" em Jevany (Praga), com 68 anos de idade. Aqui fica uma pequena homenagem a este checo, praticamente desconhecido entre nós.